quinta-feira, 2 de maio de 2013

acontecimento feliz com toni platão ao telefone

Toni me dizia acontecimentos secretos, sentimentais, com voz em surdina perto de mim, quase ao meu ouvido. Eu em pé ao seu lado, na Lagoa Rodrigues de Freitas ou num pé-sujo próximo ao Largo do Machado o ouvia , atento. Me dizia uma vez que estava vivendo um romance. Sucinta e seriamente, meio a alguma coisa meio desimportante que acontecia à nossa volta.
 Outras vezes ele era indiferente a mim. Eu até que não ligava. Não sei bem porque gostava dele. E este " não sei nem porque" vai por conta de que geralmente sempre gostei de quase todo mundo de quem eu era próximo, ou estava por onde eu andava.. Mas deveria haver um motivo para eu gostar de Toni. Talvez me despertasse uma certa admiração, até sem motivo rs. Porque era meio indiferente. Mas como eu era meio estelar, e ele também, algo nos aproximava.
Uma vez o vi, nu. À noite, em seu apartamento na Voluntários da Pátria. O olhei como olhos não propriamente eróticos, ou sensuais. Ele me olhou de volta. Estava se vestindo. Normal. Era mais uma noite, e íamos para o bar Real Astória num tempo em que a mundaneidade do baixo Leblon era meio boêmia no grande estilo, quase sinônimo de liberdade artística.
Bem, não sei o que quer dizer bem isso. Chamo assim pelas minhas raizes existencialistas parisienses via leitura de livros de Jean Paul Sartre que lia na minha adolescência.E por uma tradição dos anos 70, quando sair à noite era um acontecimento. O que continuou pelos anos 80, época em que conheci Antonio Rogério Coimbra-Toni, Platão pela sua admiração pelo filósofo das essências.
Chegava eu hoje, numa noite de maio de 2013,do Norte Shopping onde comprei filme de Disney, Humphrey Bogart, Bertolucci e Jeanne D'Arc, em minha casa, atento, e olhando ao meu computador ligado vi: Toni se dirigindo a mim no bate-papo do Facebook.
Trocamos  números de telefones. Me ligou para o fixo. Ouço sua voz. E que delícia é se reencontrar, mesmo à distância, com um velho amigo!
E entendi... conversando com este crooner, operístico  e de bom gosto que suco com metade de um pepino batido no liquidificador com água deixa a nossa voz grave mais doce. Mas não por ele. Aprendi contando para ele.
Sim, pois o pepino é refrescante e acalma os ânimos piscianos de voz grave- como eu e Toni.
Toni  até me disse que cansávamos ao falar, porque quem , como nós, tem voz grave tende sempre a falar mais alto!
Bem,, eu que à tarde tinha conversado rapidamente com um rapaz, na calçada, sentado num banco, por acaso, sobre  os inconfidentes mineiros, missões jesuíticas junto aos indios, ouro de Minas Gerais que financiava a revolução Industrial Inglesa... foi bom saber, e confirmar o que  ando descobrindo: nada de excessos na tranquilidade dos dias.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Diana e Brigite

Diana e Brigite desde que eram filhotes viviam juntas na área de minha casa.  Diana é um labrador e passou a entrar mais e ficar entre nós. Mas gostava de voltar para junto da Brigite. Depois, pelas mãos de meu sobrinho Rafael, Brigite  passou a ficar entre nós também. Sempre amigas.
Diana nunca cria problemas para se medicar.Gosta, e até me procura.
 Brigite, ao adoecer, parecia aprender com ela a necessidade de se medicar.
Quando precisou ir ao veterinário para melhorar de uma doença fatal, mas fora do tempo de uma cura, me olhou de manhã com confiança de que eu iria com ela.
Me senti honrado, como dizia minha irmã Sandra com sua demonstração de confiança.
E no veterinário, eu a abracei e  ela se sentiu confiante  de estar comigo. Ao sair da clínica, animada olhando a paisagem da janela do carro, tive a certeza que estava feliz. Chegou até a brincar por dias!
Quando não quis mais aquela doença que a vitimou, procurava deitar-se, tranquila. Diana a olhava, e para mim ao lado de Brigite. E confiante , uma noite Diana deitou-se.  Brigite partiu para o céu no dia seguinte e Diana ficava deitada nos lugares onde Brigite deitou.
Diana ao ir a veterinários, com problema parecido ao de Brigite, não pareceu ter gostado. Por mais que a tratassem bem, a dra Paola e a outra veterinária. Porém, no dia que foi preciso que ela se operasse, ficou confiante.Chegou mesmo a esperar a cirurgia providencial. Eu não permitiria caso não sentisse firmeza na comunicação do Rafael que a levou a uma consulta anteriormente de que estaria tudo bem. Diana sentiu  firmeza também!
Com a ajuda de Deus Diana curou-se! E Brigite mora em meu coração.

domingo, 20 de maio de 2012

um piano à luz do luar

Numa reunião do movimento estudantil conheci Paulo César. Eu tinha 17 anos e fazia o clássico, ele um pouco mais, estudava na Filosofia- fazíamos revolução. Ele tinha um sorriso lindo, aberto. O reencontrei. Depois me disse como tinha gostado do meu pulover azul-marinho que costumava vestir, inclusive naquela reunião.Um dia, à noite, fui ao apartamento dele. Me abraçou e deitou sobre mim no sofá da sala.Meu primeiro prazer amoroso. E voltei. E conheci a namorada, a Regina, moderna, diferente, e um amigo, Gustavo,  doce garoto que conhecia de vista no cine Paissandú, para ouvirem as ideias guerrilheiras da organização política de que eu era militante. Achei importante ser ouvido, responsável por uma luta de mudança no Brasil. Enquanto falava senti que era muita retórica. Uma noite esperando eu chegar( eu prometera), à janela do apartamento, sua mãe, entendendo sua espera, lhe deu um beijo, compreensiva. Aos 18 anos, depois de pegar minha identidade, fui morar definitivamente com ele. Íamos muito ao cinema, pagava minha entrada. Conheci Maggie Smith, em Primavera de uma solteirona, que ele amava.Não entendi sua adoração gay, marxista calei àquele personagem simpatizante excêntrica de Mussolini. Outra vez, quando vimos a refilmagem de um clássico de Errol Flynn, Carga da Brigada Ligeira, ele comentou, à saída do mesmo Rian, na Avenida Atlãntica, que tinha me visto como se eu estivesse com 30 anos.É que tinha ficado impressionado pela desumanidade de uma batalha. Me surpreendia com o que Paulo Cézar dizia, amante inteligente e doce. Deslumbrado com a liberdade da idade, o deixei por amigos que viviam o movimento flower power que ele próprio me apresentara, achando que eu ia gostar da ideia, quando eu deixei de ser militante do movimento estudantil. Tinha me contado de um jovem hippie oferecendo uma flor num meio de uma estrada barrenta. Paulo Cesar me fez ouvir Janis Joplin. Com ele vi 2001, uma odissséia no espaço. E quando deixei de morar junto, me procurou num apartamento em que estava, e muito serio quis me explicar seu ponto de vista de eu estar sendo consumido pelas amizades " de Ipanema". Nâo entendi direito que ele queria era que eu voltasse para ele. Até que numa tarde, num ponto de ônibus barulhento, frente ao Metro Copacabana, nos despedimos, Ele me comparando a Madame Bovary. Paulo Cesar se transformaria num teatrólogo encenado. Anos depois chegou a recusar um beijo meu-  eu estava meio drogado de mandrix, na casa de sua analista lacaniana onde nos encontramos por acaso. Ele já tinha me dito, pois o visitava e transávamos, que a tinha procurado para entender sua fantasia erótica de sugerir que eu pensasse na cama num garçon que nos servia no Chaika que eu confessara a ele que achava lindo.Sofria às vezes com Paulo César, não por mal que me fizesse mas por problemas que eu tinha e ainda não entendia. Paulo César, tão afetuoso que quando visitei meus pais, ainda morando com ele e depois de quase um ano sem dar notícias, me   deu uma cerâmica Marajoara para agradar a minha mãe, que sofria com o meu desaparecimento em dias tão difíceis de ditadura mililtar. Paulo Cesar chegou a presentear minha irmã Lígia com Quarup um best seller político sobre a libertação pela vida sexual que só recentemente li. Escrevo agora e sinto como  podia amá-lo, e o amo, mesmo que não tivesse compreendido a necessidade que ele tinha de me ter.
Eu era impensadamente livre, querido. Obrigado pelo amor que nos juntou.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

para que maltratar o amor, o amor não se maltrata

A meu pedido, dia das mães, ela mesmo se dizendo sem voz cantou essa música, acho que do Altemar Dutra- e que sempre cantava.Às vezes é de uma frescura, mesmo frescor juvenil, conservado ao comentar com expressões entre modernas e antigas com as amigas sobre novelas ou, comigo, com seriedade sobre a situação indígena, que me surpreende. É terna com os netos, e crianças, mas  rigorosa com seus acertos que tanto proclama, com razão.Tão responsável com suas tarefas que chega a ser chata. Aprendo com suas iniciativas, sem essas me faltaria muita coisa mesmo. Sempre insistiu no que é preciso ser feito. Diz que só vejo filmes e me pergunta se vou ver Globo repórter e me informa que está passando Braguinha, ou Ney Matogrosso... e, mesmo eu acordando cedo, quando abre a porta para a Diana e a Brigite fazerem as necessidades no jardim, e ao almoçar tranquilamente afirma que acordo tarde.Larguei os estudos para participação revolucionária pós 64, ele fez com que eu voltasse a estudar. Quando se cuida recupera a beleza, seu riso. E sempre quando me aborreço com o que acho injusto em seu temperamento forte,difícil, considero seu valor inestimável. Se dá ao luxo de ser indiferente em relação a mim, preferindo ouvir Sem Censura, com a Leda Nagle.

domingo, 22 de abril de 2012

novidade

Pedi ao meu pai, antes dos meus 10 anos, e ele fez uma assinatura do Jornal do Brasil. Emoção às manhãs para ler crítica de cinema, ver programação. Também esperava tio Glauco chegar às quintas à noite para lhe pedir a impressão do Globo, que ele deixava no banco de trás de seu carro.Ele me dava a chave. Morava em Copacabana, ia às sessões das 22h, dizia que dormia. O gentil Tio Glauco, grande amigo de meu pai, ao presenciar eu não chorar quando um médico trocava curativo de meu dedo seriamente machucado, me presenteou com um projetor infantil de imagens. Num período cheguei a recortar e colecionar fotojornalismo da Guerra do Vietnã, protestando. E artigos de economia, descobertas arqueológicas... guardava, não lia. Lia era José Carlos Avellar que escolhia uma cena, sequência, plano e desenvolvia uma questão- intrigantemente intelectual.Sempre quis escrever sobre cinema, mas nem cursando pelo meio Comunicação nem mestre em Letras ainda consegui! Hoje gosto de ouvir diálogos. Outro dia vi o início de um filme com Anouk Aimée, The Appointment/ Sidney Lumet: uma mesa de café da manhã, e o filme custando a carregar, pensei em fazer interferências e comentários a planos, coisa aprendida com Godard e com uma aluna de Artes Visuais, Simone, que num programa de edição de vídeo desenhou em cor sobre o cartaz de vanguarda dos irmãos Sterneberg para Um homem com uma câmera...

segunda-feira, 9 de abril de 2012

crise( bom sono)

Algo muito bom tem me ajudado, me considerado-.Fico indignado com que eu sofro, mas procuro me orientar, ter discernimento, também orando "santificado seja vosso nome"," venha a nós o vosso reino", " o pão nosso de cada dia nos dai hoje"bem definidamente . Meio a crise, o descanso é um remédio precioso e desenvolvo pequenas e boas disciplinas. Com a idade, não sofro tanto como quando desavisado, e cuido de curar-me de precariedades e alguns males com a fé que sinto quando decido-me, pequenas decisões, e o reconhecimento para com a minha vida. Procuro sem muita cisma meu sentido, alimentar-me com atenção,retomada como hábito, e trabalhar com noções eficientes de práticas, necessidades. não consigo concentrar-me muito para acompanhar um filme, os vejo meio de relance mas os escuto, notando-lhes os valores e qualidade.Coloquei nomes nosposts deste blog que de manhã, com clareza,achei que poderiam ser paciência, força sensível, habilidades- e estudo.Providências.

terça-feira, 20 de março de 2012

satisfaction

Dançava rock and roll em casa, com minha irmã Lígia. Era uma coreografia algo acrobática, que víamos em filmes. Meu pai, que tinha nos comprado um lp de bela capa do Elvis, pedia para dançarmos para parentes, morríamos de vergonha...
Só na minha primeira festa de adolescente dancei " comme il faut" nos anos 60: livre e loucamente. Os colegas da minha turma do Clássico riram muito comigo.
Mas ir à festa foi pretexto. Como podia chegar tarde em casa, aproveitei para ir à minha primeira sessão de meia noite no cine Paissandu. Era um filme russo: Don Quixote.
Entrei muito à vontade no cinema ( tinha bebido um pouquinho), seguido por um amigo que tinha um topete que eu adorava, e era meio odioso, e tinha tentado me dissuadir da ideia desde a festa....
Depois fui a muitas sessões de meia noite. Com meus amigos, o Bruno especialmente. Eu tinha 20 e tantos anos e era acontecimento sempre apaixonante, nos anos 70.
Muitas vezes, quando voltava de madrugada para casa, de táxi, namorava os motoristas. Achava que era preciso, que os amava...
A um, à tarde, perguntei se seu pau era musculoso, ficou sem graça. Quando saltei, me chamou e disse que era sim...aí, também, eu meio sem graça disse que tinha gente olhando...
Numa madrugada, já de manhã, voltando para casa da Zona Sul, o motorista simpático riu com minha conversa meio solta,  embriagado, e me afirmou com convicção que não era preguiçoso. Decidi que também não!